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Lays Ramires - 06 de Agosto


06 de Agosto de 2021


Esse lugar que a gente habita, que a gente é, mas se esquece de ser. Se abandona, se distrai com o resto do mundo, sem se dar conta de que o mundo inteiro está ali: no nosso corpo-habitat.

Quando há a inércia do corpo, há a inércia do mundo. Basta um curto período de ócio para que o atora sinta os reflexos dessa inatividade quando retorna à sala de trabalho. Ao mesmo tempo em que desesperador retomar a prática num corpo “enferrujado” é revelador e libertador o reencontro com este corpo-ser.


São tantas as buscas necessárias para a construção de um estado pleno de presença, que talvez eu não consiga relatar em palavras nem mesmo um décimo do que acontece na sala. É este também um exercício desafiador. Transcrever o que vive o corpo em atividade criativa. Vamos limpar o espaço! Ouvimos estas palavras do diretor e a imaginação dá start à mudança de estado de um corpo que até então “inativo” passe a ser despertado.

Este é um aquecimento/alongamento. Onde as articulações são acordadas e a energia passa a fluir no corpo. Ao invés de indicar “estique aqui, alongue acolá”, num trabalho periférico, o diretor nos dá um estímulo que permite que o corpo responda fazendo.


Não há espaço para a racionalização tendenciosa. Sem necessariamente pensarmos sobre, nós já esticamos aqui e alongamos acolá.

Num segundo momento, uma condução mais codificada é experimentada, uma vez que a prática visa à expansão dos corpos, perpassando assim pelo alongamento, abertura de espaço interno, força, tônus, alinhamento e reconexão da coluna vertebral. A sequência de exercícios é intensa e exaustiva, mas de necessidade inquestionável.

A voz é um elemento pouco explorado por grande parte dos atores. Neste encontro, ela protagoniza longos períodos de prática e pesquisa que variam entre fonemas, desenhos de lábio, posicionamento de língua, respiração, timbres, tons e volumes.

A musicalidade também foi um dos pontos fortes do encontro, onde cada ator criou uma melodia a partir de seu poema de trabalho e depois ensinou aos demais. Quando se faz esse exercício nossa atenção se volta a elementos que muitas vezes não nos são íntimos, como a melodia, os tons, a métrica e os tempos musicais. A busca é justamente aguçar e ativar todos os sentidos, de modo que a ferramenta corporal seja explorada e preparada de forma plena.


Aprendemos todas as canções uns dos outros. Na prática somos induzidos a alternar rapidamente entre uma melodia e outra. Sinto uma grande dificuldade. Há um segundo de total apagamento da canção entoada anteriormente. Porém, basta que uma palavra seja dita ou que um parceiro balbucie a melodia, e ela então é cantada por todos.


Percebi essa mesma dificuldade, em maior ou menor grau, nos meus parceiros de cena. E acredito que isso se dê ao imediatismo no qual vivemos. Onde nosso cérebro já não registra tanta coisa, vai sempre abrindo espaço. Mas o ator vem na contramão e precisa em seu templo de criação, uma infinidade de memórias existam e possam ser rapidamente acionadas.


O último e talvez crucial momento é o da exploração criativa. Partimos de diferentes poesias metafóricas e simbólicas. Mas me pergunto: Por que é que sentimos tanta dificuldade em encontrar uma representação extra cotidiana?


Tenho algumas possíveis respostas ao meu próprio questionamento, mas espero, ao longo dos próximos relatos, tê-las mais claras e, aliás, superadas. O fato é que há uma infinidade de resultados possíveis. Mas para todos eles só existe um único caminho: a investigação prática.





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